A GOTA DE ORVALHO
Era uma vez uma gota de orvalho
que vivia a se esconder do sol
para não ser dissipada.
Às vezes no caule sinuoso do arbusto
outras, no âmago de uma flor.
E sempre conseguia sobreviver.
O sol ia embora, a noite vinha
e ela era regada pelo néctar de outra gota.
E assim passou muito tempo.
Depois veio o verão, rígido,
e ela tentou se esconder mas foi inútil.
O sol da tarde buscava nos mais ínfimos lugares
e a achou, secando-a
e ela deixou de existir.
Somos gotas de orvalho,
ficamos a buscar um lugar
para fugir do mal,
onde não saibamos que a violência existe
e onde possamos guardar
os ensinamentos que recebemos
para que não se esvaiam apagados
pela realidade do hoje, onde os valores são outros.
Para não sabermos que Deus morreu,
dando lugar a muitos deuses
que estão levando à destruição
o homem e a natureza.
Para que tenhamos ainda, por pequena que seja,
a esperança,
de que há solução para a vida
pois nosso grito de socorro será ouvido
antes do entardecer dos tempos!
Mas pobres de nós!
Muitos não temos onde nos esconder.
Sucumbimos ante a realidade cruel da vida
e muitas vezes não resistimos...
Cansamos de lutar
e morremos!