poesia...
e se não for vadia, indecente
promíscua não há de ser poesia
as palavras que perfilam-se frias
a poesia?
há de escorrer quente pelos dedos
em folhas brutas, brancas ou sujas
inebriar josés, judas, genis e marias
e em noites e em dias, gritar
a olho nu seu corpo ardente
por mãos sedentas de entrelinhas
insaciável prostituta
no exercício de sua essência
em leitos amigos e inimigos, deita-se
por gosto, com gosto
não esgota-se, não medra-se
adapta-se ao gênero, ao sexo
ah, poesia...
tão mãe, amante, filha
ainda que tenha dono
bebe de outros vinhos
bem-me-quer, mal-me quer
baila e fala, às vezes é retrato...
e... com almas, acasala-se
chora, ri, amaldiçoa, dói
doa-se, abençoa... enfurece-se
ama, ama e ama...
sempre tão pura, poesia...