DIARIO DE AREIA
Já escrevi palavras na areia
Sabia que o mar viria busca-las
Já desejei delicias mundanas
Jamais foram minhas
Não conheci terras exóticas
Nenhum jardim inglês pra mim
Nada de índia misteriosa
Sem Nemo sem Nautilus
Mas cantei canções no escuro
La onde ninguém podia me ouvir
Onde a lagrima é só lagrima e sempre cai sozinha
Eu já encobri obscuros segredos
Medos exóticos
Medos inconfessáveis
Medos infantis
Só medos...
Sempre os medos
Eu já bradei em batalhas ferozes
Derrubei homens
Os vi derrotados
Os vi moribundos
Não chorei por eles
Em verdade... nunca chorei
Eu já deixei meu ódio pra traz
Eu o dei as flores
Enterrei fundo num canteiro de rosas
Mais tarde o vi voltar pra mim
Eu já fui zumbi sem alma e sem amor
Já fui bêbado, um ébrio errante gritando meu amor impossível pra lua.
Eu já sonhei com anjos
Já sonhei com pergaminhos
E livros que ninguém escreveu
Eu já perdoei ofensas imperdoáveis
E reagi com fúria diante de deslizes insignificantes
Já matei...
Já fui morto...
Caçei.
Fugi...
Eu já trouxe sabedoria de lugares místicos
Já espalhei tolices de metrópoles insípidas
Já fiz política
Já fiz amor
Já fiz... de tudo
Eu já quis que ela soubesse se do meu destino
Já escondi dela minha presença
Amor e dor... juntos em meu peito
Eu já afoguei velhos sentimentos em vinho barato
E narrei em poemas tão loucos que não pareciam meus
Já chovi sobre cidades que nunca me entenderam
Eu já parti
Já estive longe
Voltei e ninguém sabe
Escrevo palavras na areia
Olho o mar
Aguardo.