O FRACASSADO
Está escuro, todo o caminho escuro
Ouço assovios de fantasmas a me seguir
E todos gritam e imploram teu nome
Quando não eras, antes de existir
Qualquer sinônimo, qualquer palavra
Que te envolva na essência, no perfume da flor
Crio jardins, mas as flores deles fogem
E as que restam estão murchas e sem cor
Crio Céus e estrelas que te observam
Rios que fluem no escuro deste caminho
E observo-os sem saber
E nego, e protesto e me desvio de todos
Vejo que sou um fracassado, um vencido!
Onde estará sempre escuro...
Onde os bosques invadirão as palavras
Que sempre irão se perder
Onde sempre a tristeza estará
E pântanos e coisas assim
E sempre haverá uma amada
E estarei no fim a sofrer
E desertos e ermos serão meu abrigo
E desejos estarão em meu corpo
Mulheres dirão que me amam
E em seguida partirão de mim
Digo adeus e não entendo
Que poderia estar mudando todas as coisas
Descobrindo quanto deveria viver
Decidindo sobre a loucura do Mundo
Quando o Mundo é a loucura do ser
Trazendo-me ao inconsciente isto ou aquilo
Ao consciente o que tenho a fazer
E reflito e refletindo deixo de ser o que penso
E na minha reflexão rios transcorrem
Essa é a verdade que nos separa
Que me assevera tanto em ti este delírio
Que ao ser o que sei não ter sido
Sinto-me domínio e equilíbrio sem se ver
Nada mais que o que tenho sempre negado
Vida que posso não viver...
Encho de névoas a frialdade deste Céu cinzento
Por que viverei sendo eu esta voz
Que eterniza os prantos do amor?
E percebendo que tudo logo irá se esmaecer
Peço que quando isto acontecer...
Por favor, não se esconda!
Pois está escuro, todo o caminho escuro
Ouço assovios de fantasmas a me seguir
E todos gritam e imploram teu nome
Entretanto dessa vez estarei sozinho
Por isso me despeço e corro por fatais direções
Mas que importa?
Tudo me leva para o mesmo caminho...
Para o nada mais que o que tenho sempre negado
Para a vida que posso não viver...