Anônimos

Que herói eu devo cantar Poeta?

Cante o anônimo, Menestrel.

Cante-nos.

Pois eis que somos a massa do mundo

e o recheio da utopia.

Cante o velho de longas barbas

que ainda suporta as sombras dos vales.

Cante a puta sem nome,

que toda rua consome.

Cante a operária que costura calças

e sonha com os corpos que vestirá.

Cante o jovem poeta simbolista que planeja,

escreve, berra e acredita na Revolução.

Cante a balconista magra da farmácia da esquina

que vende a cura para os males de amor

e vive a fantasia de ser lavanda e perfume.

Cante-nos, escriba! Pois eis que somos os palhaços do Circo

e só nós, entre super-homens que voam, levantam toneladas

e amansam dragões, podemos errar

(e a plateia ainda aplaude e ainda pede bis).

Só nós caímos mil vezes. E mil vezes nos levantamos.

Cante-nos, escriba, pois só nós escrevemos os toscos diários

que compõe a grande epopeia do homem.

Cante-nos escriba!

Apenas nós somos heróis a serem cantados.