NASCENTE

Num veio cristalino

Um fio d’agua

Se pronuncia

Rompe o ventre

A vastidão da terra.

E um rio logo corre

Célere, vigoroso

Cavalo de água

No verde dorso da serra.

Seus fios de teia

De renda molhada

Seus passos de fera

No fundo das grotas.

Amansa cantigas

De amores e tempos

De luas meninas

Planícies e ventres.

Um rio serpenteia

Cá dentro da mente,

Um rio de versos

De lendas e lavas

Desceu num galope

Sem rédea

Nem freio.

Um rio

Um poema

Surgiu de um grotão

De um vão

De uma lavra.

Rompendo os limites

Os véus do desejo

A língua, o silêncio

E a sina dos medos.

Um rio

Um espelho de águas

Enchentes,

Vazantes, e lagos

E mares

Saltando os altares

Profanando as gentes.

Um rio

Um braço

De mar desgarrado

Correndo liberto

No leito das veias.

Descendo as montanhas

Os vales, as serras

Nasceu de repente,

Em meu corpo

De terra.

Sandra Fonseca

Sandra Fonseca
Enviado por Sandra Fonseca em 31/05/2013
Código do texto: T4318900
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