MEMORIAS E LIÇÕES DE UM ANCIÃO
Sou o avesso do meu oposto,
à parte dele transito sobre caminhos
que a vida me apresenta
Não baixo a cabeça nem, tampouco,
faço reverências às excelsas autoridades
Tenho por elas certa ojeriza,
posto que, desde tempos mais que remotos,
foram por elas a humanidade condenada
Às ciências, às ciências,
homens buscaram e buscam novos tempos,
Porém, também isso não garante
menos dor e mais humanidade
Rosa nesse jardim
onde já não pousa o beija-flor
e a abelha colhe o polém transformado,
as pétalas e o mel já não são os mesmos
Brincadeiras infantis pertencem às memórias
E amparadas pela tecnologia,
imberbes criaturas envelhecem precocemente
Saudade
Saudade dos tempos da minha aurora
Saudades, ingenuas saudades
brotam em noites solitárias
Na parede o quadro e meus irmãos,
todos já velhos e nos rostos
traços do tempo que passou
Saudade
Saudade daqueles tempos,
irresponsáveis tempos de brincadeiras
igualmente irresponsáveis
Hoje o tempo se me avança
Sou o ancião que viveu
e por isso trás as marcas na pele
Quanto tempo mais transitarei sobre essa ruas,
e quanto tempo mais verei manhãs de outono?
Do outro lado da rua a tabacaria já não existe;
homens outrora com seus chapéus e cachecóis, já não passam
Nos cabarés lindas moças felicitavam os visitantes
Tempo que passou
Tempo que passou e já não volta
Ó minha Lisboa
Quem por ti devotou tanto amor
Quem percorreu suas ruas e vielas
Nos cafés poetas vibravam novos versos
Floristas nos calçadões regados a lampiões,
sorriam aos clientes apaixonados
Tempo que passou
e que deixou na memória
a indelével marca da saudade