A Larva da Ilusão
Fosse fácil morrer
Eu já teria emurchecido
Com cada verso meu ainda não domesticado
A vagar, puro
Nos prados dum dicionário
Mas posto que habita em mim
A larva da ilusão
Posto que a chama que arde
Dentro do meu coração
É toda movida a vida
(só que não)
Eu solto dentro da noite
O grito mudo da fé
Salto, mecanicamente
- ativamente passivo
No suicídio cotidiano
E canto o canto das horas
E sigo o rumo do tempo
Espero o sol
Olho o vento
Eu concateno sentenças
Eu teço verbos e valsas
E danço sobre o meu sono
Fosse fácil morrer
Eu já teria passado
Mas posto que me esqueci
Fora da esfera fatal
Eu corro solto
Espalho rimas
Eu funambulo no caos
Cultivo um pomar de sonhos
Nas dunas do meu quintal
Eu pinto os muros da fúria
E engano a dor da rotina
Fingindo ser imortal.