Duas palavras ... e o absurdo.
Não quero dizer, poeto
Não quero viver, versejo
Não quero cantar, silencio
Não quero amor, nem soneto
Não quero sentir, palavreio
Não quero o normal, desobedeço
Não quero o tempo, vagueio
Não quero uma regra, desejo
Só quero ser de verdade
Mesmo que isso me traga dor
Só quero ser incompleto
Mas ser
Não quero o anonimato, escrevo
Não quero o passo parado, caminho
Não quero o ver todo decoroso, exponho
Ser humano é ser incompleto, mal rabiscado, insano
Amar com voracidade e animalescamente
Respirar pela pele, falar pela pele, gostar pela pele, fazer amor pela pele
Só quero duas palavras, e o absurdo
Absurdo bem maior a cada tempo
Quero que se veja que sou sentimento
Verbos descompassados, coisas de Dionísio
Quero deixar a vesta sensação de existência
Quebro-me e sangro metades todo o tempo
Minha vocação é ser de algum modo eu mesmo
Gritando e esperneando o absurdo que sou
Que vou sempre ser
Que continuarei sendo
Amém
Que amém?
Eu quero ser ser humano!