Duas palavras ... e o absurdo.

Não quero dizer, poeto

Não quero viver, versejo

Não quero cantar, silencio

Não quero amor, nem soneto

Não quero sentir, palavreio

Não quero o normal, desobedeço

Não quero o tempo, vagueio

Não quero uma regra, desejo

Só quero ser de verdade

Mesmo que isso me traga dor

Só quero ser incompleto

Mas ser

Não quero o anonimato, escrevo

Não quero o passo parado, caminho

Não quero o ver todo decoroso, exponho

Ser humano é ser incompleto, mal rabiscado, insano

Amar com voracidade e animalescamente

Respirar pela pele, falar pela pele, gostar pela pele, fazer amor pela pele

Só quero duas palavras, e o absurdo

Absurdo bem maior a cada tempo

Quero que se veja que sou sentimento

Verbos descompassados, coisas de Dionísio

Quero deixar a vesta sensação de existência

Quebro-me e sangro metades todo o tempo

Minha vocação é ser de algum modo eu mesmo

Gritando e esperneando o absurdo que sou

Que vou sempre ser

Que continuarei sendo

Amém

Que amém?

Eu quero ser ser humano!

Tato Silva
Enviado por Tato Silva em 28/05/2013
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