[A Flor de Leste]
Essa minha algidez, essa hesitação —
teus olhos me dizem que sabias de tudo:
a minha estrada era árdua,
e eu não caminhava só!
Era ainda outono... e chegaste,
a tua imagem tentadora apareceu-me
a leste da região mais escura
da sinuosa trilha de angústias
que eu vinha palmilhando —
surgiste em meu caminho
como a estrela do suave amanhecer...
Os deuses são mesmo irônicos,
pois me enviam uma flor assim,
cheia de cuidados, de precauções,
envolta em presságios de mais espinhos.
És uma flor cujas pétalas jamais verei
na pálida luz das madrugadas,
nem tampouco as verei orvalhadas
na brancura da pátina da manhã.
Eu sei que devo resignar-me:
tu és uma flor que nunca irá
sorrir-me ao sol nascente!
Tem razão o divino Platão:
não se separa o prazer da dor, nunca!
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[Penas do Desterro, 11 de maio de 2002]