[A Alter-Alma]

[A imaginação criadora não busca a lógica,

e deve mesmo fugir à lógica exatamente

para não ser abatida ainda em voo.

Tal como a Arquitetura, a Imaginação busca, na ousadia das formas,

a leveza, a graça de transcender habitualidades.

A realização que assenta as coisas na firmeza de ser

é coisa para o frio cálculo de depois [da criação].

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Não creio em almas... Mas, num exercício de imaginação, eu penso no que diria a minha alma ao sair do corpo

— "ufa, que alívio, passei a vida toda ali, nesse corpo morrente... e agora, enfim, livre!"

Mas do outro lado da sala do velório, a minha alter-alma, sarcástica, gozadora, me avisaria:

— "Alivio... pode ser, mas pense que, agora, sem o corpo, você nunca mais vai ter uma ereção!"

Que horror... que coisa mais sinistra de se dizer a minha alma, enfim, liberta [aqui, eu-alma, pensei em Manuel Bandeira, Momento no Café]... A alter-alma da gente é mesmo um estraga-prazeres!

Fica aí o contraditório, e se a gente for detalhar, pior há de ficar... Mas, se a alma pode pensar [e falar] sem o cérebro, pois este lá ficou no corpo que se foi, como é que não há de ter uma ereção!? Ainda mais a minha alma, eternamente encantada com a beleza, a suavidade, e até a voz das mulheres!? Eu, hein, a minha não! Essa tal de alter-alma que vá para o diabo — com efeito, me dar um aviso sinistro como aquele!

Mas então, se eu não creio em almas [e não creio?!] então, tudo isso é brincadeira, é coisa da cosmogonia pessoal da cada um! É um sonho acordado, imaginação tecida no ar rarefeito da cinza das horas dos meus dias!

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[Desterro, 25 de maio de 2013]

Junto pedrinhas lisas, enrolo elástico em carretel para fazer carrinhos de boi, eu brinco com os cacos da linguagem que me fala! Pois como eu já disse, num certo poema,

"... E penso:

se eu me mantiver viajando, viajando, viajando...

Serei sempre menino!"

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 27/05/2013
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