Tempestade

Tromba de um deus

Paquidérmico e cinzento

A fustigar-me

Com chuvas e ventos;

Língua plúmbea e marrom

A torcer-se em espiral

De fúria e som;

Precipício gutural

A vomitar-me

Pó, fogo e detritos;

Céu de granizo

Apedrejado –

A primavera

Traz as piores feras

De maio:

Grenha turbulenta

A assolar a terra

Com tormentas

E raios.

Oh, que anjo assoma

No céu de Oklahoma

E sopra deveras

Apocalíptica trombeta

Repleta de ira e bestas?

Nada mais resta

Do gado, do pasto

E da safra de milho.

Nada mais resta

Senão o desespero

Do clamor e do grito

Das mães à procura

De seus filhos,

O choro de medo

Dos órfãos

Sob os escombros

E a chuva.

Nada mais resta

Senão o terror

De mim mesmo,

Paisagem do avesso

Da qual tudo parece fugir...

Minha nudez e desterro

Onde antes só havia

O ouro a fulgir

À luz plena do dia,

A placidez dos alísios

A soprar nos campos de trigo.