A Tecelã do Amor
Todos os dias
Ela alinhavava um poema
Para a Outra vestir
Estendia-o no varal
E quando as gotas da saudade
Começavam a cair
A janela se abria
Para as mãos do desejo
Ousadamente o colher
E a outra bebia, comia,
Cobria-se com
Cada palavra pendurada
No vazio do seu quintal
E lá ficava... pronta
Vestida a sorrir
Com a lã das metáforas
E versos tecidos sob medida
Rimas bordadas por linhas atrevidas
Que a nenhum outro corpo
Desejaria cobrir
Hoje, Ela quieta,
Brigada com a poesia
Não costura uma estrofe
E a Outra descontente
Anda nua a reclamar
Os poemas de rio e mar
Que diariamente a vestia.