Reflexões em um passeio noturno
I
Eu ouço vozes por todos os lados
Dizendo coisas sem nenhum sentido
Num ombro um anjo vestido de branco
No outro o demônio fala ao pé do meu ouvido
Eu não queria cortar meu próprio corpo...
E nem trazer felicidade aos infelizes
Eu sou um cordeiro na pele de um lobo
Tentando esconder as minhas cicatrizes.
II
Seu corpo lindo de animal de sangue quente
Como é magnífico o corar da sua tez
Degustarei cada gota do seu sangue
Para tentar curar assim minha palidez.
III
Quero sair a noite, mas sem ser notado
Minha cidade é perigosa e violenta
Enquanto andava eu quieto e calado
Vi uma moça morrer por ser desatenta.
Eu não fiz nada... Também não podia...
Segui direto meu caminho torto
Se eu intervisse naquela agonia
Com certeza agora estaria morto.
Maldita terra! Aqui se faz, aqui se paga?
Será? Eu tenha uma pergunta a fazer
(Só o que eu vejo é criminoso impune)
Será que os anjos tem SPC?
Justiça é cega e ainda surda e muda
De imparcial, sinceramente, não tem nada
Alguém, por favor, poderia verificar
Aquela balança deve está quebrada...
IV
O frio da madrugada corta qual navalha
E traz a mente tempestade de lembranças
Penso em fazer uma visita ao cemitério
E deixar flores no túmulo das minhas esperanças.
Quantos amores já assassinei
Quantos poemas de amor já escrevi
Quantos lágrimas sinceras derramei
Quantas vezes eu também já desisti.
Quantos sonhos enterrei durante a vida
Quantos corações também já fuzilei
Quantas vezes fui à terra prometida
Quantas vezes baleado eu já voltei.
Quantas bocas já beijei por esses anos
Quantos corpos eu mantive junto ao meu
Quantas vezes praguejei os desenganos
Quantas vezes o culpado só fui eu...
Quantas vezes mais vou ser crucificado
Quantas vezes vou chorar desiludido
Quantas vezes o meu sangue derramado
Quantas vezes o meu rosto esquecido.
V
Sem destino eu vou vivendo por viver
Vou morrendo por morrer
Também pudera
O destino são os trilhos
O tempo o trem
Que nunca para
E também nunca espera.