Santos de Barro...
Euna Britto de Oliveira
www.euna.com.br
Era meio-dia,
A chuva caía mole, sem relâmpagos,
Igualzinha a algumas chuvas do princípio do mundo,
Igualzinha a umas chuvas de desde que o mundo é mundo!!!...
Deus estava de terno,
Eterno e infinitamente justo!
Quanto a mim, parei um instante
Para avaliar e admirar a sua belíssima coleção de todos os nascimentos
Que já existiram sobre a Terra...
E não evitei pensar na sua incompreensível coleção de todas as mortes,
Correspondente à dos nascimentos.
Sem exercício, meu corpo dói.
Uma dorzinha manhosa...
Acostumadas com exercícios físicos,
Há umas partes do meu corpo
Que reclamam mais movimento!
É o sentimento do corpo.
Ou o seu ressentimento...
Quem é moleiro, mói.
Quem é vaqueiro, toca o berrante e conduz o gado!...
E eu, que ainda não sei o que sou,
Observo, sinto, escrevo,
Cuido dos cães e das plantas,
Faço uma casa sem cozinha,
Endivido-me no exercício do poder de fazer,
Fazendo mais do que posso
E bem menos do que gostaria...
Estou num patamar em que não censuro mais nada.
Censura e julgamento não fazem parte do meu ofício
E isto me liberta muito!
Não censuro nem julgo
A mulher madura que se veste como adolescente,
Nem a que fala artificial, querendo ser sensual,
Nem a que namora rapaz novo...
Todos são seres vivos
E o que acho feio é imobilizar, gelar,
Morrer na hora que se tem pra viver,
Anular-se, aniquilar-se, não se auto-estimar!...
Até levantar um dedo é lindo!
Por que achar feio o movimento inofensivo
E não-violento de quem consegue, de alguma forma, Expressar-se?
Todo sinal de vida é válido!
Contanto que não prejudique a ninguém!
Pela vida,
Vou seguindo carinhosamente,
Carregando o andor com cuidado,
Porque o santo é de barro...
Dependendo dos olhos com que vemos o mundo,
Tudo brilha, tudo é luz!!!...
O que tinha de ser depositado na urna dos merecimentos,
Coloquei aos pés da Cruz!
No mais, a Justiça fará jus...