Transmutado à Madrugada
Eu já não sou o mesmo
e na madrugada a esmo
o corpo se contorce
da dor que é tão real
e atravessa a noite
e rasga a mente o pânico
do dia amanhecendo
e a luz nos olhos vítreos
corrói minhas pupilas
que frágeis e purpurinas
refletem a lamparina
que crepita ao coração.
Eu já não sou eu mesmo
e no universo a esmo
a mente se contorce
nessa transmutação
de versos alquimistas
colhidos nos orvalhos
repletos do mercúrio
que cessa nos murmúrios
da foz dos pensamentos
e num vazio momento
a alma se apruma
e se esvai em meditação.
Eu já não sou eu mesmo
e na poesia a esmo
as letras se contorcem
no anseio e solidão
da estrela em lume opaco
e a voz do peito parco
sussurra entendimentos
num breve firmamento
de azul raiz profundo
que engole o meu mundo
que é pura fantasia
que é o verso em maestria.