NÃO TE VÁS
Não te vás, ó poesia, não me deixes!
Às vezes, sinto-te escoares da inspiração às mãos
e fluíres por entre os dedos...
Não te vás!
Se te fores, farás meu sentimento por parceiro,
e que serei eu, então?! Uma sonâmbula
a perambular por veredas que a nada levam?
Da minha vida foste eterna companheira
e confidente nas horas de colóquio com o papel.
Por ti, quanta lembrança não se tornou bruma,
e quanto não se esvaiu no longe do passado!
Das garras da insipidez só tu me salvas
e te tornas a fonte viscejante que sacia,
porque és um doce dom de Deus!
Só por ti se vai ao Pai - porto seguro -
que, de leve, lava e enlaça e liberta e sara!
Em tuas asas de cores puras derramadas,
quero voar ao léu, sempre contigo em sintonia!
Visitar manhãs, auroras e entardeceres...
Desvelar, por teus olhos, do Criador a Onipotência,
e louvá-LO por todo sentimento
e sensibilidade que me conduzem
pelos caminhos do Belo!