SOMBRAS

Entre destroços me escondo,

represento a dor vazia,

a aflição dos deserdados,

a angústia na pedra fria.

Minhas mãos são como espadas,

sou o fogo que arde, invade,

o lamento dos aflitos,

o tremor do homem covarde.

De todas as dores provei,

entre choros e clausura,

sou o medo que aprisiona

com o manto da noite escura.

Sou da luz, a sombra inteira,

sustento a lei natural,

sou o mais tênue limite

que separa o bem do mal.

Sou dúbio, indefinido,

encaro o fim e o começo,

sou calejado, endurecido,

sou o direito e o avesso.

Sou riso, sou desafio,

sou energia, tropeço,

sou cilada e armadilha

e da vida, o caro preço.