Sangue Pisado

No sangue seco e pisado

na sola desse sapato velho

e uma espera quer sobreviver

e a vida morta exposta a reviver

o passado irado, errado, errático

desse desassossego sem medo

pilhado ou empilhado aos corpos

entre as flores de um olhar alado.

No sangue seco ficou grudado meu DNA

e na sarjeta os micróbios corriqueiros

fugitivos de um banheiro, imundo

onde dormem homens e sonhos

de um passado que passou depressa

e o que ficou foi minha dor de cabeça

inchada, rechaçada, ressacada de vinho

e as flores foram enfeitar tumbas e ataúdes.

No sangue seco a sede escassa, imbebível

os copos dessa cachaça, tão curtida insana

em bocas emboloradas, apedrejadas,

por pecados catalépticos esquecidos no inferno

ou apenas um delírio abocanhando o mundo

já doente, improdutivo, e o veneno é nocivo

enquanto ingerido devagar, esperando amar

ou apenas matar as flores dessa gélida agonia.

Jonas R Sanches
Enviado por Jonas R Sanches em 23/05/2013
Código do texto: T4305457
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