Procurando emprego

Procuro empregar

a rima onde bem

me convier.

A empresa é minha

tá entendendo Xavier?

Não importa

o gênero qual seja.

Se enseja igualdade.

Amo a todos por igual.

Aqui trabalha

homem, mulher

e também transsexual.

O emprego da rima

pode ser de faxina,

não muito longe,

não na Conchinchina

por favor!

Gosto dela sim,

quando varre o chão,

catando poeira, erros,

tripas, coração.

Arrumadeira de tumulto,

de gaveta encavalada.

É tanta meia perdida

meu Deus, desemparelhada.

O coletivo não usa,

continua vindo a cavalo,

trotando feito louca.

Tá louca, só pode...

Pode ser que seja TOC.

E não toque mais no assunto

sobre a doença da moça,

entendeu Eliseu?

- Entendi.

- Ótimo! Mudemos então.

A poesia dá um salto,

duplo twist carpado,

faz floreado de samba.

Foi para escapar do assalto

ô coitada, caçamba meu!

O poema vai crescendo,

efervescendo, borbulhando.

O sapato aperta

e o calo vai latejando.

Expurgando o tumor,

o verso desapega

do rancor.

Agora sim...

A rima repetida,

viciada no fonema

dá problema ortográfico.

Projeta na parede

para mim, isso, assim.

Vejamos o gráfico...

São nove chacinas

em nove semanas.

Mas peraí, isso no subúrbio,

não nos bairros de bacanas.

A rima adora isso,

descobrir a América...

Fica arrasada,

histérica quando

a injustiça é com

o plural.

Singular é outra coisa,

é coisa muito fina!

Pobre rima,

rima pobre...

Há quem lhe cobre

decência, decoro,

mas a pobreza

é que lhe propõe

um lindo e sincero

namoro.

Xô, sai pra lá

ave de mau agouro.

Quero ser feliz e só.

Não vem dar nó

no meu destino

é com Agripino

que vou e...

Ó pra você!

Entendeu Romeu?

- Entendi.

- Ótimo! Mudemos então.

- Mas, para onde?

- Rua da Consolação!

Apartamento de três quartos viu.

A decoração já estava.

Tanto quadro metafórico

e um vaso astrofísico,

teórico estacionado

na mesa de centro.

O epicentro da cidade

era raro, único.

A rima debruçou

no parapeito da janela

para contemplar

a bela paisagem

na rua-passagem

de manifestações.

Botou os olhos

nos derredores

esquadrinhando

os pormenores geográficos.

Hummmmmmmmmm...

Aquele cemitério...

Não é sério estar ali.

Dá um desconto,

solução vai.

Colocou uma cortina

trazida da viagem

à Jacobina.

Foi a melhorança!

Pronto, a azia passou.

Na estante um livro

lhe chamou o instante.

Ela, triunfante,

sentou-se, recostou-se

à poltrona.

Era livro de poesia.

Mas o que fazia ela

retratada ali, sem permissão?

Vejamos...

A poesia é atípica,

disforme e tríptica.

Vai e volta,

muda de assunto,

solta um grito de trovão.

Ela finalmente encontrou

o emprego que tanto sonhou.

A página lhe parecia

um bom lugar,

mas teria que dar uma

mão de tinta.

Desamarelou as paredes

estendeu os tapetes

e deixou-se estar.

A poesia já podia sorrir,

enfim, comemorar!

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 22/05/2013
Reeditado em 07/11/2013
Código do texto: T4303039
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