FOLHA EM BRANCO

A folha permanece em branco

Nenhuma tinta...

Nenhum rabisco...

Nada de desenho...

Nem sequer um garrancho!

A folha permanece imaculada

Nada de ideias...

Não havia contos...

Sem crônicas também...

Nem mesmo espanto!

A folha seguia desafiadora

Tem tantas linhas...

De que papel é feita?

Que arvore pereceu para lhe der forma?

Qual é teu nome antiga arvore?

Tinhas galhos que tremulavam ao vento carregadas de frutos?

Portavas pequenos animaisinhos?

A teus pés amantes trocaram segredos?

A folha não oferece respostas

Um único caderno...

Tantas folhas... tantas possibilidades

Mas a folha... esta folha diante de mim permanece em branco

Quero suja-la

Quero usa-la

Expor segredos

Criar estórias

Bolar meus enredos

Mas nada...

Nada...

A folha permanece em branco

Alva quase perfeitamente alva

Serena...

Perigosa...

Diante dela eu suo...

Espremo meu cansado cérebro atrás de outra criação

De mais uma pequena poesia

Um verso que seja...

Pela minha janela passa a lua

O céu tem nuvens sua luz e difusa

No poste de luz esta a coruja

Na rua de chão batido ladra um cão

Diante de mim esta ela...

E permanece em branco...

Muda...

Talvez para sempre!