O ÚLTIMO CONCERTO... 89
Enquanto os acordes do piano enchiam o teatro,
Propagavam-se, como labaredas de fogo, preenchendo cada espaço,
O maestro tocando, olhos fixos, puro encantamento,
As respirações trancadas, silêncio absoluto, reinando...
Os dedos ágeis incitavam as teclas a lhe obedecerem, seguros,
E delas os sons se sobrepunham, baixos, ou violentos,
Ora como se quisessem explodir as paredes e saírem pela noite,
Ora como passarinho liberto a encantar com seu voo suave...
Nos momentos em que as teclas pareciam serem feridas,
Choravam, sob os dedos que como dardos as sangravam, magoados,
Aos toques fortes gemiam, a dizer de seus lamentos e tristezas,
Tudo silenciava e só se ouvia o farfalhar dos vestidos, das damas...
Novamente uma tecla é solicitada e ela se exibe, exuberante,
Corações querem saltar do peito, na magia do momento envolvente,
O pianista respira fundo e faz o piano soltar um grito, lancinante,
E o silêncio é quebrado e a melodia se impõe e domina o ambiente...
A música se instala no ar e na alma de quem a ouve, neste crescente,
O pianista se levanta se curva e ao público agradece, humildemente,
Que só então seus cabelos brancos e seus olhos brilhantes, percebe,
Ele beija comovido seu piano... Que silencia para sempre...
E de pé é aplaudido... Neste último concerto... Comovente...