O MÁGICO DE NÓS
Muitas vezes eu queria ser mágico
Unir os povos, os rios e os montes
Ligar entre si planícies e horizontes
E deixar de fora tudo que fosse trágico
Fazer o Guaíba desaguar no Solimões
Deixar o Rio Negro irrigar o nordeste
Plantar maçã e amora no agreste
Plantar amor em todos os corações
Ver o Rio Uruguai cheio de pirarucus
Pescar dourados no Rio Branco
Proteger com criciúmas seus barrancos
Nadar com arraias no Rio Iguaçu.
Nosso Brasil é somente um na lei
No mais, em tudo ele é diferente.
Nas trovas, toadas e nos repentes,
Nossa língua é a mesma? Não sei.
Queria que o mar banhasse as Gerais
Roraima, Rondônia e o Mato Grosso
Seria mais bonito, seria um colosso
Os diferentes se tornariam mais iguais.
Queria Brasília com centro brasileiro
Sem corrupção, negociatas, nepotismo
Queria jogar a violência para o abismo
Expulsá-la de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Queria que o músico vivesse do ofício
Que o poeta pudesse apenas poetar
O cantor viver somente do seu cantar
Sem precisarem de tantos artifícios.
Que o governo pagasse ao professor
O mesmo valor que paga ao deputado,
Ao diplomata ou então ao magistrado
Porque sem mestre não haveria doutor.
E do povo mesclado, mudaria a aparência?
No porte do negro, do asiático ou do louro
No cabelo do índio ou no nariz do mouro?
Deixaria igual, pois ali está nossa essência.
Não mexeria nas crendices nem nas crenças
No folclore, no traje, muito menos na comida.
Tentaria trazer mais harmonia para a vida
Manteria nos sons e nos tons toda a diferença.
Não basta ser mágico, precisa ser divino
E no eterno aprendizado, unicamente
Entender que o povo quer somente
Desenhar e trilhar o seu próprio destino.