O anjo torto
Não tenho medo
Pois já nasci morto
Um homem torto
De média estatura
Que come ferro,
Aço e muitos conservantes
E que dirige
Em distância segura.
Não sou parado
Pois nasci elétrico
Nas minhas veias
Corre gasolina
Na escuridão
Não perco meu caminho
Tenho neon
No lugar da retina.
Eu sou calado
Não há nada a ser dito
Também pudera
Sou da geração errada
Os novos ídolos
São bonecos coloridos
Que falam muito
Mas não dizem nada.
Eu ouço muito
Até o que não devia
No meu dia-a-dia
Em toda e qualquer hora
Os carro passam
Volume lá cima
Seria música
Ou poluição sonora?
Não tenho medo
Dessa vida inglória
Ao fim do mundo
É que estou fadado
Minha geração
Já nasceu sem memória
E eu ainda
Não estou acostumado.
Não tenho medo
Pois já nasci morto
E o anjo torto
Que seguiu Drummond
Segue-me agora
E tenta convencer-me:
O teu destino
Ainda pode ser bom...