Impuro

Sou avesso à pureza

prefiro o desnatural e o impuro

o ser que cheira à vida, cheira à gente

que corre barro pelas veias finas.

Sou envolto por vidas

a vida das palavras me encantam

me produzem o mesmo encantamento da chuva

o encantamento que tenho pelas borboletas.

A borboleta que voa, caminha, pousa, transa

a borboleta respira

a borboleta é prazer impuro.

O cheiro do barulho escuro me envenena

o relógio da parede me transita

o que pensam os impuros nos sábados à noite?

no amor e na morte?

é o mesmo que pensam as borboletas!

A pureza me perturba

sou cético ao puro

o puro não tem vida, não pulsa

a pureza é estéril, higiênica e branca

pureza pra mim é o cobertor que me cobre do calor

é a televisão queimada, o vento, o ar, o feio, o frio

são coisas gigantescamente pequenas

não cabem nem no meu bolso de tão miúdas

muito menos num verso desmedido.