AS DUAS FLORES

Vivendo na mesma borda
Cresciam as duas flores
Uma mui bela e calhorda
Outra débil e sem odores

A primeira, nobre rosa
Das mais lindas do jardim
Era soberba e orgulhosa
E sempre falava assim:

Não vês como sou ramada
Cheia de encanto e esplendor?
Tal como rosas douradas
De inestimável valor

Com o meu soberbo ramalho
Entre vós sou eu galã
Sou preferida do orvalho
Que me beija toda manhã

E tu, pobre margarida,
Quem poderá te adorar?
És uma flor retraída,
Quase sempre a mais vulgar.

A falação prosseguia
Cada vez mais animada
A margarida sorria
Ouvindo tudo calada

Nisto surge das folhagens
Um displicente infante
Com gesto quase selvagem
Fita a nobre flor pedante

Aproximando-se da alteza
Arrancou-a de seu galho
Despetalando a princesa
Transformando-a em migalhos

A margarida tremia
Vendo esta que há pouco
Era uma rosa em botão

Horrenda e esfarrapada
Mutilada, já acabada
Espalhada pelo chão!

Depois de muito chorar
A margarida pensou:
É certo que sou vulgar

E também não tenho odor
Mas vivo bem sossegada
E melhor viver assim

Que ser bela e desejada
Soberba, esguia e ramada
E ter este triste fim.



Composto em 1959, este foi, talvez, o meu primeiro poema.