Espelho, Espelho Meu

Espelho, espelho meu:

Há mais tristes rios que guardam meus olhos?

Há maior dor que expõe os ritos de meus lábios?´

Há maior infortúnio que as dobras de minha testa?

Há maior sede que minha língua exprime e seca?

Há maior saudade que meu peito bate e tu vês?

Há mãos mais calejadas de tantos ébrios afagos?

Há maiores gritos que guardam minha garganta?

Espelho, espelho meu:

Traga-me de volta a boneca da infância, pode ser aquela menorzinha.

Pois, hoje vou brincar de ilusões, vou ser mãe da criancinha, aconchegá-la em meus braços. Ela é linda, sorri para mim e já posso imaginar seus dentinhos, mordendo-me.

Vou, depois, pegar uma boneca maior e será ela crescida e vamos jogar maré.

Em seguida, vamos jogar mariquinha, cinco pedrinhas para cima, pegarei todas elas.

Nessa fantasia de criança, serei tão lúdica que me estenderei feito um lençol branco no varal, sob o sol, correndo com o vento para lá e para cá, batendo palmas ao vento.

Espelho, espelho meu:

À tardinha, quando a noite estiver para despontar, traga em seu poder

O meu primeiro namorado a dançar comigo nos salões de festa.

Veja também se traz grandes rodas de amigos a esquentarmos fogueiras.

Mas, do meu amor quero o primeiro beijo, não o inocente, o que se quer para sempre.

Já dos amigos eu quero o companheirismo cheio de olhos compreensivos.

Que meu amor foi embora por toda a vida não precisa nunca, nunca refletir.

Que meus amigos se perderam e vieram outros e outros não me cochiche isso.

Espelho, espelho meu:

Obrigada por ter me ofertado minha vida em imagens perfeitas dentro da saudade. Mas, agora um sono repleto me toma o corpo inteiro. É que a viagem foi longa demais.

Neusa Azevedo
Enviado por Neusa Azevedo em 17/05/2013
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