a cozinha sabia mais da vida do que os livros
Que a minha cidade
Era boa
Já não sei
Mas água daquela
Densa e corpórea
desacorrentava deusas
e esfaziava as hortas
dos porcos e
os cata-ventos
respondia ao aroma do vento
e nos dissolvia na vida
como se fossemos ácuçar
e a dor uma pedra rara
lago puro e cristalino
Onde moças
Se jogavam
E eu queria apenas
Clemência
Longo e delicado
Eram seus braços
E suas bocas
Só me escreviam
No mundo
E eu mal soletrava
A mim mesmo
Mal sabia
Que anjos e demônios
Se abraçam
Amam e se odeiam
Escuro era a cor
De meu lume
e a cozinha
sabia mais da vida
do que os livros