"Catalepsia" (poema de IVONE ROCHA GARCIA)
Ivoninha, eu me pergunto neste instante sobre o que realmente existe na poesia e na condição do ser poeta. Eu me pergunto movida pelo impacto que me causa a cena poética na qual vejo um poema como este seu se doar ao meu. Eu me pergunto que mistérios tem a poesia que me surpreende assim e que permite que meus versos nos quais não percebo mesmo “engenho e arte”, recebam de presente um poema como o “Catalepsia", de gosto refinado, de estilo mais que apurado e de ambiência byroniana. Eu me pergunto ainda que palavras seriam exatas para demonstrar a minha emoção.
“Catalepsia" (da autoria de IVONE ROCHA GARCIA)
E o plúmbeo da noite me tragou
Em sua insidiosa voracidade
Gritos soam como estertores gorjeios
A harpia voejou
Rasante rapinou todos os sonhos d'ouro
Encapsulada em cortante catre agora estou
Minhas solertes mãos
Escavam à terra
Um fio de água pinga de meus imundos dedos
Larvas hediondas refugiam-se em meu inerte corpo
Cerrados estão os meus lábios
Ó boca maldita, por que não se abre mais em flor
Onde estão as palavras que não mais pronuncio
Repetitivas batidas ecoam no vazio
De repente uma altaneira luz ressurge
Ruborizadas, hirtas, desconexas as faces se agitam
E o corpo ainda vivo
Salta da cova ainda quente!
***
Republico o meu poema que aqui se encontra festejado regiamente pelo de Ivone:
Eu incomodo a lua (Tânia Meneses)
Busco no mar, nos rochedos, nas selvas
Busco escondida sob as raízes de velhos arvoredos
Nos recônditos das palavras
Nas voltas que dá o verso
Busco em desespero
Sob o solo esturricado
Na lama, na poça da chuva
Enfio-me pelos olhos das estrelas
Por entre notas musicais
Tento até ouvir algo
No chilrado dos pardais
Verifico nos telhados
Corro os olhos no voo da garça
Atravesso oceanos
Procuro também no sossego das praças
No desassossego das multidões também pensei encontrar
Mas há correntes por toda parte
E para o que desejaria dizer em um poema
Não encontro engenho ou arte