A dúvida da palhaça

Não, eu não sou engraçada

Apenas uso a graça das palavras

Para expôr algo incontestável

Que é a realidade de muita gente

Gente como eu

Que penou e sofreu

Por não saber que a verdade

É um telescópio dúbio e maroto

Que engana quem o usa

E julga quem é observado por ele.

Deveria eu então usar a graça das palavras

Para deixar todos na dúvida da sua vã certeza das coisas

E saber que apenas duvidando estaria eu sendo verdadeira

Mas ao mesmo tempo assassinando

Toda e qualquer chance de ser aceita e adulada

Não sei dizer,

Sou suscetível a elogios como todo mundo é

Aceito a adulação da risada

Mesmo a forçada

E contento-me com a inútil certeza da minha dúvida

Guardando-a no abissal do pensamento

Quem sabe um dia, alguém me lendo

Descobre que eu não era a engraçada

não era a palhaça das risadas,

Mas sim, a manipuladora das cordas das palavras

A artesã dos bonecos de madeira de feitio vulgar e enfeites rudes

De palavras umbráticas e torpes, que expunham

A dúvida, tendo nela a única certeza além da morte.

Keti Sarom Scott
Enviado por Keti Sarom Scott em 12/05/2013
Reeditado em 12/05/2013
Código do texto: T4287415
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