::: EPOPEIA DA VIDA :::
Vida, que com cântaros, enche a alma
Expurga no semblante impávido
A derrota que nos impõe a morte.
Sim, sei que lá na frente, fremente e intrépida
Com vulgar semblante de beleza contida
Que descreve o fim do começo que é a vida
Tu me haverás de ceifar o grito irresoluto.
Poderá vir-me a noite, na madrugada ou sob a aurora,
Mas, sim, virá.
Furtar-me o meu mais belo presente.
Morte, peço-te, seja tardia, porque quero viver.
Assim te rogo que quando, enfim, chegardes
Atenta-te antes de entrar e levar-me.
Pois, se amei com gratidão,
Se sonhei com confiança,
Se me apaixonei com devoção
E se chorei com esperança,
É por que haverei de morrer com ousadia.
Mas, se não tive dos mananciais tais orvalhos,
Espere!
Pois viver é preciso,
E eu preciso de cada lágrima secreta,
De cada vento vespertino
E de cada orvalho que me espera.
E viver é o que resta,
Porque o resto sempre foi vida!
Não te avilto com propostas quixotescas,
Não te hei de locupletar-te como Fausto
Tornando-me esconso à tua face.
Sim, haverei de morrer com firmeza e alegria,
Mas recua-te o passo,
Porque ainda quero muitos dias.
E antes que meu verso se perca em logomaquia,
Eu sou pobre analfabeto brincando em poesia,
Eu sou mero mortal beijando a eternidade!
Minha vida não é sonata ou soneto,
É Ópera...
É Epopeia!