O Laço da Angústia

Ensaio uns primeiros passos

Ávida por ar puro

Que me sopre forte

E jogue pra longe

Toda essa dor de mãos plenas

Que me retalha em pedaços

Preciso de um vento

Que me desamasse

Passe a borracha

Nas rasuras consternadas

Que mancham todo o meu livro

E fragilizam o meu porto seguro

De paredes rachadas

As pernas reagem,

Mas ainda tão frágeis

Bailam bambas, angustiadas

Presas a laços de fitas cortantes

Que pressionam a carne

No desejo de banhar-se

Do rubro que me preenche

E lubrifica os meus batimentos

Nesse perdido instante

Os músculos se contorcem

Tremem de um frio

Causado por neves e nuvens

Que habitam o meu ser

As mãos desconhecem

Os corriqueiros movimentos

Os olhos não conseguem ler

O amor coberto por lodo

Que o manto da culpa

Que cobre meu corpo

Nas noites escuras

Deseja esconder

Mas minhas pernas mesmo trêmulas

Ensaiam os primeiros passos

E sinto-me a ponto de romper o laço

Com essa angústia infernal

Que insiste em me prender.