ANJO DA NOITE

Hoje eu te precisava tanto aqui,
meu anjo da noite! Há tanta tristeza
nos cantos da sala onde não estás!
Sombrias imagens bailam num baralho
maluco, com damas, reis, valetes
e, na improvável e suspeita mesa,
um peão, perdido na busca de um ás.
Canastra e xadrez enfeitam tapetes,
delicadamente bordados no assoalho
e desfilam um filme que jamais vi.

Hoje eu te precisava tanto, meu anjo
da noite! Fosse apenas um tênue contato
a me manter ligado à realidade
possível, à mínima suportável.
Ainda assim me perceberia vivo
e te amaria tanto quanto de fato
te amei a cada sonho, a cada verdade
impensada: com meu coração cativo,
que me faz assim irresponsável,
santo, puro, ingênuo, quase arcanjo.

Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 08/05/2013
Reeditado em 08/05/2013
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