ODOR DE INVERNO
Há odor de inverno no ar...
Flutua no éter a falta de alguém
Ela não veio esta noite é isto?
O quão paspalho e tolo é teu coração?
Corações são sim tão tolos...
Não cabe a eles o dom da inteligência você entende?
Não entende?
Se pudesse pensar o coração não amava...
Se pudesse amar teu cérebro não pensaria
Mas há odor de inverno no ar
Dias cinzentos de nuvens pesadas
Chuvas glaciais e intermináveis
E você na janela...
Esperando...
Você ao menos sabe ao certo o que espera?
Um lampejo nos olhos dela?
Um fulgor quase decrépito num sorriso antigo?
Espera amor?
Ela não veio não é?
Não... ela não veio!
E a noite não vai guardar teu segredo
Por que o faria esta dama tão misteriosa?
Não... a noite já tem segredos demais
Segredos de sombras
Segredos de sexo
Segredos de morte...
A noite só Le dirá... ”todos carregamos alguma morte”
E você não vai entendê-la...
Vai?
Mas há odor de inverno no ar
O mar e todo opaco e estranho nestes dias
Ninguém parece notar que o céu já mudou
Só você...
Você nota é claro!
Sem duvida que nota
Que vida é esta que escolheste me diga?
Observador silencioso
Narrador sem estórias...
Naufrago em terra...
Sozinho...
E ela não veio! Veio?
Claro que não
La tão distante vindo arrastado no vento sul você sabe...
La onde o horizonte toca o mar e o mar vira horizonte
La... onde os começos foram esquecidos e os finais nunca chegam
La daquela terra mítica de lugares impossíveis
De La vem à única certeza que teu tolo coração pode ter...
Há um odor de inverno no ar!
Tão próximo...
Perto demais...
Inevitável
E ela... não...ela não veio!