Pai do meu pai

No colo do meu avô

herói da minha infância

ouvia relatos de bravuras

e de como ser gente na vida.

Um dia me disse, distraído,

que quando criança

matava formigas graúdas

e lhes arrancava a cabeça

pra melhor entender

o que se passava ali...dentro delas.

Veio então o meu tempo

E cresci.

guardei minha inocência

e perdi minha esperança

Ficaram as duas imóveis,

postas de lado na memória

junto com a imagem desconstruída

daqueles antigos insetos agoniados...

Não tenho mais colo

Nem comunhão com nada

A realidade física me é tudo.

Isso bem antes das fábulas que viriam a bater na minha porta

Antes da "bença" diária não mais exigida e da despedida habitual das coisas.

Antes mesmo da criação de todos os meus medos...

Ou como se hoje, reflito,

eu fosse aquela mesma faca surrada.

arma branca ao invés de alma,

que fere partes nascidas únicas

e então de relance ...

separadas pelo destino!

"destino-mão e faca de corte"

sim, juntas e alheias.

escolheram que fosse assim, simplesmente:

metade aqui, metade acolá.

sem perdão

sem conversa.

Mas isso é o que sou hoje.

não o que eu fui.

Eu fui feliz no colo do meu avô.

Homem saudoso, gentil, sorriso largo.

O Assassino frio e confesso

daquelas pobres e indefesas Saúvas...

Eduardo Mota Carvalho
Enviado por Eduardo Mota Carvalho em 08/05/2013
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