A morte de um rio
Euna Britto de Oliveira
www.euna.com.br
As carpideiras, de vestes brancas e capuzes,
Vistas num programa de televisão,
Com roupas iguais à da morte,
São de verdade.
Lamentam a morte de um rio do Nordeste,
Um pequeno rio anônimo
Cuja morte pode ser sinônimo
Da morte de rios maiores...
São Francisco, valei-nos!
Rogai por nós e pelo rio que leva vosso nome!...
Devastação ambiental
Não-preservação de mata ciliar
Assoreamento...
O rio ficou seco,
Seu leito de terra vermelha virou estrada,
Sem uma gota d´água, sem nada!
Estigma da insensibilidade
E da irresponsabilidade...
Se já é triste um rio poluído,
Que dizer de um rio morto?...
Juntei-me ao coro das carpideiras,
Sentindo a dolorosa asfixia de todas as piabas,
Reavaliando as impossibilidades todas
Que um dia foram possibilidades,
Como a de matar a sede com água fresca
Na concha das mãos,
Banhar no rio, mergulhar,
Participar de pescarias,
Em canoa tosca, navegar...
Quando ele corria,
Quando ele correu,
Antes do que lhe ocorreu,
Ora ligeiro, ora vagaroso,
Por 40 milhões de anos!...
Carpir a morte de um rio que sumiu...
E assumir!