Palavras
As palavras
Que brotam no coração
Tentam lançar suas raízes
Ganhar liberdade
Mas ficam estáticas antes que atinjam a boca
Flutuam em suspenso
Sem trajetória
Se molham na saliva
Quase um prenúncio
Do que se torna impronunciável
E como cruz
Pesam sobre a resistência do solo da existência
Ora fértil
Ora árido
E abandonadas no descampado
Palavras encontram outras
E num cisma qualquer se perdem
Enlouquecidas
Se camuflam no deserto
E de suas tempestades ressurgem nos pastos
Nos quais não repousam
E circulam com fome insaciável
Cavando aqui e ali
No silêncio da madrugada
Nas horas preguiçosas do dia
Marcadas na brasa da agonia
Esperando a brecha vaga da aurora.