A casa
Há! Se eu pudesse pintá-la
Dar-lhe uma massa corrida
lavar-lhe, abrir-lhe as janelas
Dessa casa, escancará-la..
Tiraria as velhas teias
Por-lhe-ia nova fachada
Fecharia as brechas
Estancaria nela as águas.
Essa casa minha não é
Nem casa de fato
Casa torta, caiada
Casa que se fez sozinha
Casa sem construtores
Casa deformada pelo tempo
Casa rota, velha, empoeirada
Rotunda casa quebrada.
Se pudesse repintava
Dava-lhe novos ares
Mobiliava, encerava
Abria a porta da sala.
Iluminaria os porões
Da casa mal assombrada
Exorcizava, varria, limpava.
Aquela que chamo de casa.
Naquela rua deserta
Onde habitava a casa
Plantava uma árvore
Punha uma cerca baixa.
Novas caras na casa
Iam animá-la, decorá-la
Adornos de nomes e vozes
Pendurava na sacada.
Varandas francas e claras
Abertas só para os de casa
Os amigos, os filhos
Gerados naquela cama.
Portas, batentes e pisos
Punha novos na casa
Para adornar sua cara
Sem rima, sem metrificá-la.
Aquela que chamo de mundo
Aquela que chamo de casa
Que esta dentro e em cima
A casa que é minha alma.