Poema cadáver

Levem meu corpo pra rua!

Exponham minhas cicatrizes

É só o que podem ler a meu respeito.

Deixo tudo escrito em um idioma desconhecido,

Meus nobres inimigos!

Sou a Senhora das Tragédias, que desfila morta no meio de vocês.

Não há novidade além das lâminas que levo nos dentes

Mordi a vida

Fracionei meus dias

Embaralhei de novo as cartas e anulei todos os pactos de eternidade.

O jogo é novo.

E,

perder seria crime hediondo!

Olhem a lenda desfilando pelas ruas!

Lenda morta.

Reescrita nos porões escuros da liberdade.

[ser livre custa a vida]

Pude ouvir o silêncio dos rebeldes

Que dedicaram um poema em branco

A minha pessoa!

E agora

Foda-se o tempo!

Sou vapor de memórias

Letras entulhadas numa rua deserta

Aguardando aqueles que roerão meus ossos infeccionados

E a tempestade!

Que dissipará qualquer vestígio

Do que fui.

Sandra Fuentes