Conceição
Alí...
A filosofar no apelo do cigarro.
Se pensava na filha...
Não há o que inventar.
Mas quando o amante chegava...
Beijo e apertos sem freios.
Pouco se falava.
E o que disserá, de tão baixa voz,
No ar mesmo ficará.
Uma roupa domestica,
Um olhar robotizado,
Um sorriso de lado.
Pouca sedução.
Pela vida dura,
Pela filha que saltava-lhe a lembrança.
Não tinha esperança com homem não.
Porém ficava aquela necessidade.
Ele chegava, como disserá pouco falava.
Passava a mão e a levava ao primeiro motel.
Assim eram todas as quintas;
Assim eram todas as terças;
não se viam aos fins de semana,
Porque ele dizia que não tinha tempo para lá estar.
Com o olhar parado ela cismava.
Perguntava se ele era casado,
Mas nem de perto ele dizia.
Chorava e bebia.
Dizia que alguém estava botando coisa na cabeça dela.
Não era para ela se preocupar.
A chuva caia e ela precisava de telha
Para não molhar o quarto da sua filha;
De roupa para melhor se trajar.
E ele fingia que os lamentos eram temporários.
Tanto que ele não apareceu mais lá.
Veio Carlos, passou Durval, Raimundo...
Até que Alexandre, Marcos e por fim Simonal.
Assentado a mesa disse a dona Tereza,
Que Conceição era uma mulher sem cultura,
Mas de grande coração.
Dias ela estava temperamental;
Dias ela estava insaciavel...
Mas o que ele nunca esquecerá era quando ela pecava.
Fazia tão bem o mal,
Que se tornava bem.
Era mal...
Natal então...
Haja paixão.
Sempre vai haver uma mulher apaixonada...
E um homem que não vale nada,
Para pensar na festa do final.
Tão boa era essa Conceição...
Que embora fosse figura repetida,
Pela sua bondade,
pela sua ingenuidade...
Tudo parecia fenomenal.
Ai que saudade daquela menina levada...
Eu queria fazê-la feliz,
Mas ela acreditou nos argumentos do mundo.