ESTRELAS QUE EU CALÇAVA
Quando criança, nada era mais bonito que os meus sapatos novos,
Olhava-os encantada e a felicidade morava neles.
Difícil tornava-se desviar o olhar daquele formoso presente,
constituído em centro de minhas atenções.
Sim, eram luzes brilhando em meus pés,
Fulgiam e protegiam-me de emoções indesejadas,
Transformados em estrelas que eu calçava.
...
Adulta, perdi o rastro ofuscante dos astros,
Descobri que aqueles sapatos já não me servem.
Neles não cabe a poesia que me atraía o olhar,
E meus olhos ficam absortos ao longe.
Também não me protegem mais em caminhos disformes
Assim, piso em cacos de palavras,
Que me lanham a alma descalça.