Escrevo...
Escrevo para expulsar
o que resta de mim em mim.
Escrevo para completar
meu vazio aquecido,
deixado e permanecido
Completo meu ciclo
e transbordo meu conteúdo,
escrevo porque não sei bem se mudo,
porque ser ponte é mais fácil que ser ponto.
Escrever é meu jeito de limpar vestígios,
engomar o vestido amassado,
sacudido no corpo empoeirado.
Escrever é enxaguar o rosto
do resto sentido n'alma.
Contrário da Lama, é calma.
Lado do nó que vai do lodo ao pó.
Escrevo para desenrolar me enrolando
e descolar pedaços colando letras
na boca do meu esquecimento,
ser assim minha broca e também meu cimento.
Escrevo para desturvar a emoção
de minha lembrança em decantação.
Escrever é a forma mais clara de dizer o meu secreto
e sem perder o segredo assumir por decreto,
minha carta de alforria e desfazer minha agonia...
Escrevo para tirar, arrancar, extrair o siso
e dissecar a lágrima sobre o rosto liso,
e lavar, e levar, e livrar, e ser livre!