" A LAMPARINA SE APAGOU"
A lamparina se apagou junto
ao meu leito e eu acordei com os pássaros
da manhã. Fui até a janela aberta e me
sentei, com uma grinalda de flores frescas
em meus cabelos soltos. Pelo caminho
aproximou-se um jovem em meio à rosada
névoa da manhã. Trazia no pescoço um
colar de pérolas, e os raios do sol faiscavam
em sua coroa. Ele parou em minha porta
e perguntou-me, ansioso:" Onde está ela?"
Fiquei envergonhada e não consegui
responder:" Ela sou eu, jovem caminhante
Ela sou eu".
Entardecia, a lamparina ainda
não fora acesa, e eu trançava
distraidamente os cabelos. O jovem
caminhante chegou em sua carruagem,
toda incendiada pelos raios do sol poente.
Sua roupa estava coberta de pó e seus
cavalos espumavam pela boca.. Ele desceu
junto à minha porta e com voz cansada
perguntou: "Onde está ela?"
Fiquei envergonhada e não
consegui responder: Ela sou eu,
fatigado caminhante! "Ela sou eu".
Hoje é uma noite de abril, e a
lamparina arde em meu quarto . A brisa do
Sul entra suavemente, e o papagaio
barulhento dorme em seu poleiro. Meu
vestido é azul como o pescoço de um pavão
real, e o meu manto é verde como a erva
que esta brotando. Sento-me no chão, junto
à janela, e fico olhando a rua deserta... A
noite vai passando, escura, e eu repito sem
parar: "Ela sou eu , caminhante sem
esperança! Ela sou eu..."
Canto numero VIII do livro " O Jardineiro" de Rabindranath Tagore. A foto é do autor, vinda do Google.