Calabouço do Tempo
como posso ainda ter apelo pela vida de tantos anos?
como o calabouço do tempo reteve recantos insanos?
se no calor, foi o novelo que teceu os prantos tristes,
se no pavor, foi o modelo que viveu o que não vistes.
como posso, findo o capítulo, ter livre a santa loucura?
como posso esvaziar o pó, larvas e ossos da sepultura?
se no andador do velho torto a paralisia escora o corpo,
se na sujeira do espelho o rosto sorria como um morto.
como posso reter o pescoço como um Napoleão vitorioso?
como se pode perder a guerra, a alma do soldado valioso?
se na calma de manter-se, dorme eterna a mão do açoite,
se na escolta do amanhecer, criastes só a solidão da noite.