Calabouço do Tempo

como posso ainda ter apelo pela vida de tantos anos?

como o calabouço do tempo reteve recantos insanos?

se no calor, foi o novelo que teceu os prantos tristes,

se no pavor, foi o modelo que viveu o que não vistes.

como posso, findo o capítulo, ter livre a santa loucura?

como posso esvaziar o pó, larvas e ossos da sepultura?

se no andador do velho torto a paralisia escora o corpo,

se na sujeira do espelho o rosto sorria como um morto.

como posso reter o pescoço como um Napoleão vitorioso?

como se pode perder a guerra, a alma do soldado valioso?

se na calma de manter-se, dorme eterna a mão do açoite,

se na escolta do amanhecer, criastes só a solidão da noite.

Dado Corrêa
Enviado por Dado Corrêa em 03/05/2013
Reeditado em 04/05/2013
Código do texto: T4272863
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