Continuando a miniantologia "Trans(TORNADOS)" inspirada nos transtornos de personalidade, publico o segundo poema, agora sobre Transtorno de Personalidade Paranóide.
Paranoide
Você
me olha pelos ombros
me fala pelas costas
me sorri pelos cantos
dos lábios
que ludibriam lábias.
Suas mãos são catapultas:
projetam bombas recheadas de bombas.
Seus dedos são tubos:
ensaiam gotas no meu vinho quando saio.
No rastro dos seus passos percebo a rasteira sorrateira.
Afirmam todos: Claro, é noia!
Mas vejo pela claraboia do telhado
a sinuosidade dos seus cômodos.
Não cismo nesta geografia.
Farejo cínicos com a bússola do logro,
espreito a perturbação sísmica:
Ao Norte, me surrupiam energia
A Oeste, a esquerda me ameaça; a Leste a direita me trapaceia
Ao Sul, meus parentes puxam a tapeçaria;
No centro, chia minha alergia.
Podem jurar que não,
tenho ciência da conspiração:
Num dia,
milhares de naves estelares
explodirão nossos lares
e não haverá mais governo
exército
espião
Que ocupe seu tempo com a minha perseguição.
Créditos da imagem: foto do espetáculo Paranoia, Companhia de Danças de Diadema