A Mulher Loba
Eu gosto da mulher loba,
da mulher que já viveu,
Que já carregou vida no ventre
Que sabe que não vai ficar pra semente,
Que sabe
Que a vida é agora, mas que também é sempre...
Que o tempo é um amigo e o espelho, confidente...
Que o sofrimento não mata, lapida...
Que o que mata mesmo é fugir da vida.
Que a vida se aprende e o amor também,
Que sempre é tempo de se querer bem.
Da mulher que chora quando tem TPM
Que se rasga, grita, se encharca de creme,
Que tinge os cabelos quase todo mês,
Tentando burlar a quem?
O tempo, o espelho ou a si mesma, talvez...
Da mulher que amaldiçoa e vocifera cada vez que sangra
Mas que agradece baixinho que “ela” ainda vem
E que, quando não vier mais, será mais loba ainda
Eu quero o corpo vivido, o rosto marcado,
O beijo curtido, o sexo desfrutado...
Da mulher que já deixou e que já foi deixada,
Pois só quem conhece a dor de um adeus,
Sabe o valor de uma chegada
Da mulher que chora um rio, guardando no peito um mar
E que sabe que quem já deu mais tem pra dar.
Que é Afrodite e Hera, muitas vezes, também, é Medeia,
Que sabe ser serva e senhora, Madalena ou Maria
Rainha da Tormenta ou Donzela da Calmaria
Na ruidosa alcatéia,
As lobas, em acalorada assembléia, uivam escandalosas confidências,
Revelações indecentes, sopradas entre ferinos e afiadíssimos dentes
Num minuto, declaram guerra e noutro, imploram a paz
Concluem, elas, em suma, que os lobos são todos iguais
Mas a Loba, a Loba é sempre uma deusa,
Divindade zôomórfica, expressa numa contumaz oralidade,
toda a paixão da existência
Pois, seus foram os seios que cevaram Roma majstosa
Loba é mulher generosa,
E generosidade se exercita e (dizem)
queima mais celulite que 200 abdominais
Dessa mulher que é atriz, corista, marafona,,
Mas que se faz virgem a cada vez que se apaixona.
Da loba guerrilheira, a loba de dupla jornada,
Pois, toda loba é um pouco mulher, negra e favelada
Ser Loba não é idade que se conta em folhinha, em calendário,
Ser Loba é penetrar a própria feminilidade com a volúpia mortal das amazonas,
É quando a mulher é mais mulher e o amor, de tão presente, se pode sentir entre as conas.
Lobas são um pouco mais mulheres, são mais que seres sociais que se vestem e se maqueiam
Lobas são forças da natureza como o luar e as marés...
Então, não me venham com ninfetas, saradas ou meninas bobas,
Pois, minhas musas são mesmo as Lobas.
Rio de Janeiro, Março de 2007