ME FAÇO SENTIDO
O padrão inevitável atravessa a multidão
E colide na minha fração de ser
"O cara", "aquele", "fulano",
O grão de areia pairando na duna
Que desgarra, mas não se distancia
Numa simbiose periódica
O suficiente para conservar a rebeldia involuntária
Da observância metódica
Há uma coisa comigo
De forte particularidade
Uma ausência acompanhada
Confortavelmente subjetiva
Naturalmente cultivada
Aumenta-se a distância
Sem sentir vazio
Numa visível discrepância
Pelas frestas espio
Os feixes de luz se projetam
Ofuscam
Mas já me refaço
Fecho as cortinas
Nesse inviolável espaço
Sempre, contudo, ouço a interferência
Impondo-se persistente
Já me acostumei ao barulho
É a convicção
Que tem medo por vezes
Sem soltar minha mão
Não tenho pressa de inclusão
Isso é um detalhe mundano
De minha parte pode até ser leviano
Mas não me vejo gregário
Egoísta, talvez
Converso muito comigo
E me faço ser tido
Me faço sentido
Reponho
Desarrumo
No seio da cautela
Confesso segredo
Fiel de própria capela.