O jantar
Arranquei minha roupa,
Cortei o meu cabelo,
Incendiei tudo, iluminei tua cara.
Tu tinhas fome de fera:
Cortei um braço, e te dei de comer,
Cortei ainda perna e metade doutra,
Tua fome era braba:
Tirei uma fatia de meu lombo, comeste.
Meus dedos, tu engoliste sem mastigar.
E meus lábios, que tu dizias doces,
Cedi-te de sobremesa; Doía me retalhar.
Mas teu apetite era medonho.
Puxei meu sangue numa seringa eletrolítica,
Matei tua sede de morcego.
Morri numa hemorragia, ou numa infecção.
Olhastes meus pedaços no chão com ternura.
Tu me achaste bonito, sorriste para mim.
Achaste minha bochecha atraente,
Deste, ainda, última dentada.
Tu me enterraste dentro de tua barriga infinita.