[No Centro do Absurdo]
Parte de mim se avia,
pressente o perigo iminente,
e anseia partir sem dor,
sem alarde, suavemente...
E outra parte de mim
sabe que vai perder a disputa,
mas se agarra, insistente,
renitente a essa rocha sísifica.
No centro do absurdo, tal como Janus,
o deus de duas caras — eu olho:
atrás de mim, a vinda arrastada...
à minha frente, a ladeira vertiginosa!
E tal como um urubu empanturrado,
dou um arroto sarcástico para esse absurdo:
nada a fazer — exceto rir da espera...
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[Desterro, 26 de abril de 2013]