Saudade ininterrupta

Saudade ininterrupta é algo assim

Mais ou menos como um cravo

Na palma da mão fincado

E vem um malvado e remexe o cravo

Fazendo um círculo e profundo

Executa um giro interminável

Para ver sobre o chão o sangue derramado

Saudade ininterrupta é como querer amanhecer e amanhecer

De alguém ao lado

Beijar não apenas beijo lambido e molhado

Mas beijar como se beija um anjo

Ao lado de Nossa Senhora ajoelhado

Saudade ininterrupta é como o mar

Imenso e largo

Azul

Verde

Em outros momentos, acinzentado

Saudade ininterrupta é como sentir

Um suspiro que não termina

Um soluço inflamado

Um bem bem maior que o mundo

No corpo ferido de um combatente

Arrastando-se no pó do deserto

Sentindo o sol inclemente e

No peito a dor da certeza

Que o embate está perdido

E então se entrega ao destino malfadado